sexta-feira, 14 de setembro de 2007

mesmo começo, mesmo fim.

Cansada e com dores ela só caminha e respira. Uma respiração ofegante de alguém que passou o dia fazendo algo de útil, um ar de dever cumprido.
Havia por alguns dias esquecido do coração fraco que tinha deixado morrer, mas que ainda não tinha dado por falta, afinal, passava suas horas superficialmente feliz, sem flashbacks desagradáveis e sem a vulnerabilidade que lembranças alcoolizadas poderiam lhe causar.

Enquanto caminha na rua estreitinha, lá ao longe, na rua do cruzamento vê o pequeno carro descendo, lá... ao longe...
Então abre aquele pequeno sorriso. Um sorrisinho, daqueles de canto de boca. Um sorriso que parecia ter esquecido da dor de ter deixado o coraçãozinho perto da piscina que nem água tinha, na noite quente de um ano qualquer (no futuro não fará mais diferença).

Ao chegar na esquina (a que cruza a rua estreita com a da descida), até olha lá para longe, na esperança discreta de ver o pequeno automóvel clarinho, clarinho!
- Maldita, pensa.
E antes que seus pensamentos e seus olhos se voltem para a rua que acabara de atravessar, vê lá, de novo ao longe, aquele rapaz anos 30, mas que com um ar moderno até fala ao celular rindo, rindo e rindo.
Um riso bonito, daqueles que um dia foi pra ela, antes e depois do vinho.
Um riso que saía da boca e do olhar.

Os caminhos cruzados, como os das ruas, não se encontram logo ali.
Ela finge não enxergar do outro lado.
Anda como se estivesse “avoada da vida”.

Enquanto a tremedeira a toma, os 10 segundos seguintes serviriam apenas para entrar na loja e a moça do balcão se levantar:
- Boa tarde.
- Oi, eu queria saber quanto tá pra revelar esse filme.
- 60 centavos cada foto.
- Obrigada.

Então, sai fazendo contas. Cabeça baixa, dedos entrelaçados e uma baita dor nas costas.
Sem notar que direção tomar para chegar mais rápido em casa, olha para frente e...
Ai..., pensa.

O coração acelera, os três ou quatro segundos conseguem cruzar os passos do rapaz anos 30 (que continua risonho ao celular) e da menina que não vale a pena.

A falta de saber o quê fazer abre o sorriso amarelo da moça e o dedilhar da mão desocupada do rapaz, como se acenasse contidamente para àquela que não mais seria sua.

Oi... (pensou ela).
Foi tão rápido que nem o “até mais”.
Deixa pra lá.

2 comentários:

Tomate Maravilha disse...

Arnaldo Baptista - Bailarina, enquanto eu lia.


=*

jebar437 disse...

Eu gosto de "Bailarina".