sábado, 7 de abril de 2012

Sobre alemães e roteiristas de novelas

Imagine a cena:

Sexta à noite, festa da engenharia. Vou, porque, né, nada mais pra fazer em uma sexta à noite. E ando meio triste, muita coisa pra fazer na universidade, então vou tomar umas cervejas antes de ir pra festa. Eu e minha amiga começamos a falar em inglês, porque ela precisa treinar e eu bebi o suficiente pra não ligar se eu estou falando *muito* errado. Hora de ir pra festa, já depois de 3 ou 4 cervejas. Chegamos lá, mais cervejas pra não perder a dose dupla. Amiga sugere tequila, mas sou muito esperta e não quero morrer passando mal. :)

Vejo os alemães por perto. "Olha, aqueles meninos estão visitando o inf! Vou lá falar com eles!". Ótima ideia pra quem já bebeu o suficiente. Obrigada, álcool (sério, sem ironias). Puxo papo, em inglês, começamos a conversar. Me aproximo do mais bonito e mais alto, mais loiro e dos olhos mais azuis. Nos beijamos. Momento mágico (e alcoolizado), só lembro de flashes da noite. Hora de ir, combinamos de nos encontrar no parque no dia seguinte. "Mas 3 pm de verdade, ou 3 pm você vai sair de casa?" How cute... uma semana no Brasil e já sabe dos nossos hábitos de atraso. "3 pm de verdade". 

No outro dia, acordo depois da 1 da tarde. Banho, etc, já é 2h40. Não posso me atrasar, não dá tempo de comer. Vou pro parque, ele já está lá. Mas eu cheguei às 3 em ponto. Vamos passear, fazemos a rota turística padrão, redenção - gasômetro - Lima e Silva pra comer. Um bar com cervejas diferentes após a janta. "Tenho cerveja no meu quarto de hotel". Claro, porque só precisava de uma desculpa.

De manhã no Domingo: "Jantamos juntos?". Ok, eu respondo. Tinha almoço com amigos marcado. Nos encontramos pra jantar, and that's all. Todos cansados, cada um pra sua casa. 

Segunda-feira, sabiamente não digo a ninguém que estou ficando com aquele alemão lindo que frequenta a sala do lado. Vai que ele resolve agir como 90% dos homens e só me dar tchauzinho de longe (ou nem isso)? Entro na minha sala após as aulas da manhã. Cerca de 10 minutos depois, ele entra, me dá oi, me beija na boca e pergunta se vamos almoçar juntos. "Claro, quando for almoçar me chama". Meus amigos, meio chocados: "Quem é seu boyfriend? Por que eu sempre sou o último a saber das coisas?" "Viram que ela está namorando com um dos alemães da sala do lado? E é o mais bonito, ainda! Quer dizer, o cara é muito bem apessoado..."

E assim começou a semana mágica. Cada momento com ele eu vivia como se fosse o último. Cada vez que eu acordava do lado dele, eu tentava aproveitar como se fosse a última vez. Tentava capturar todos os detalhes dos olhos azuis-acinzentados, o sorriso fofo, o jeito que ele falava "hey you"... E eventualmente foi a última vez. "You know, you can't avoid it." "I know... but you can't blame me for trying." "No... no, I can't." E sorriu lindamente. 

Na despedida final... "So, you'll call me when you go to Europe, right?" "Of course. And you, call me if you ever come back to the Great Republic". Piadas internas. Risos. Bye bye, gorgeous german guy. 

Estamos trocando e-mails. Não e-mails apaixonados. E-mails falando do que acontece na vida. Coisas que temos que fazer, coisas que impedem que façamos outras... e como um sente falta do outro, eventualmente. Em pouco tempo, os e-mails param. Daqui uns anos, vou pra Alemanha. Não vou encontrá-lo. A última vez que nos vimos foi na parada de ônibus, ele entrando no D43. The end.

Obrigada por isso, roteirista maldito.

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